segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A verdade no que não se vê

Jezebel é separada do marido. Mora com dois filhos no interior. Rosa, a mais velha, até que foi bem criada, mas hoje sua mãe virou alcoólatra e não é mais grande exemplo de vida. O filho mais novo, Henderson, cresceu aos cuidados da irmã por dois motivos, na verdade por vários, mas dois em destaque: primeiro pela incapacidade da mãe educá-lo, segundo por ela achá-lo incapaz de qualquer coisa. Herderson é cego.
Com seus 11 anos de vida o garoto não conhece muita coisa fora de seu quarto, mesmo sabendo que a cidade é pequena e não tem muita coisa pra se conhecer de qualqur forma. Ele não vai à escola, não há uma capacitada para suas necessidades especiais.
Rosa, já frequentando o colegial numa cidade vizinha, dedica agora o pouco de seu tempo livre pra ajudar o irmão no estudo do braille. Seu sonho é passar no vestibular e ser uma pedagoga formada em educação especial.
Henderson estava se sentindo cada dia mais só, pois apesar dos esforços da irmã, o tempo deles juntos diminuia cada vez mais. A voz da mãe ele só ouvia quando ia buscar água ou ia ao banheiro. Ela falava, ou balbuciava revoltada, sozinha enquanto assistia aos telejornais sensacionalistas.
Mesmo assim o garoto era muito feliz. Ele tinha uma amiga. Uma que, desde que ele possa lembrar, sempre contara com ela em todas os momentos de sua vida. Alguém que mesmo com o passar dos anos nunca deixou de lado o carinho e a atenção que ele tanto gostava de receber. Não que ele a exigisse, mas a dedicação da amiga sempre fora total ao garoto.
Jamim visitava-o todas as noites sem falta, escondido da mãe e da irmã dele. Henderson sentia o perfume adocicado da amiga entrando pela janela e ouvia seus passos leves. Logo ele lhe contava como fora seu dia, ela ouvia pacientemente todos os minimos detalhes diferentes que apenas um cego poderia descrever de dias quase todos iguais. Ela não falava muito, mas seu cheiro e o toque macio de seu vestido deixavam aquele menino mais feliz a cada noite.
Uma vez ele contou a Jasmim uma história que lera com a ajuda da irmã, sobre a menina Alice e sua viagem fantástica pelo país das maravilhas. Ela adorou, mas na hora de praxe despediu-se saindo pela janela.
Assim seguia a vida de Henderson, querendo aprender novas histórias interessantes para contar para sua amiga. Um dia ele sugeriu para Jasmim que conhecesse sua irmã. Ela não pareceu gostar da idéia, mas também não negou.
O dia seguinte ele passou imaginando como seria o encontro de Rosa e Jasmim, as duas pessoas que ele mais admirava. Esqueceu até de seus livros matando o tempo avaliando quais seriam suas reações, se gostariam uma da outra, etc. Ele tinha quase certeza que sim, afinal elas eram até parecidas em muitos aspectos.
Naquele entardecer aconteceu um acidente envolvendo Jezebel. Ela andava bêbada em frente sua casa quando um carro em alta velocidade perdeu o controle ao desviar-se dela, que acabou saindo sem ferimentos. Infelizmente o carro invadiu seu quintal, colidiu com a casa e causou um pequeno incêndio no jardim. Henderson ouviu uns gritos, o motorista alegando que o sol poente atrapalhara sua vista e só notou a mulher cambaleante segundos antes de mudar a direção.
Ela e os filhos foram dormir na casa de uma irmã. Henderson não tinha nada contra seus parentes, mas ficou muito desapontado por não poder se encontrar com Jasmim aquela noite, mas ele sabia que ela compreenderia o acontecido e que por isso não puderam se ver. Ele acreditava que seus encontros eram tão especiais pra ela quanto eram pra si.
Os três voltaram pra casa, o garoto estava muito ansioso pela visita de Jasmim. Mas ela não aconteceu. Será que a ofendi sem perceber? Será que ela pensou que eu a abandonei? Muitas dúvidas surgiram na mente dele, nenhuma que levasse a uma conclusão satisfatória. Henderson resolveu simplesmente esperar pela próxima noite.
Mas passou-se uma semana, duas. E mais nenhuma visita ele recebeu. As vezes pensava ouvir o roçar do vestido de Jasmim contra o peitoril da janela, mas quando verificava, era só a cortina nova do seu quarto. Aliás, seu quarto todo cheirava à fumaça desde o acidente e isso o incomodava muito. Mesmo tendo trocado a cortina e feito uma bela limpeza. Não conseguia nem lembrar mais como era o agradável perfume de sua amiga. Amiga. Perguntava-se se ainda poderia considerá-la assim e se, por acaso, esteja onde estivesse, ela ainda o considerava seu amigo.
Jasmim estará guardada na lembrança de Henderson até o fim dos seus dias.

Algum tempo depois Rosa estava de férias do colégio e incumbiu o irmão de ajudá-la na reconstrução do jardim. Ele gostou do desafio e encarou de frente esse novo contato com o mundo externo. Descobriu um gosto novo pela vida, um ainda maior que contar histórias. Seus vizinhos passaram a conhecê-lo. O talentoso e jovem jardineiro cego.
Um dia enquanto adubava a terra perguntou a Rosa o que havia no jardim antes do fatídico acidente, numa curiosidade desinteressada. Ela, que chegava do colégio, cheia de livros nos braços, parou pra pensar.
_Só alguns vasos de samambaia e xaxins aqui na frente perto do portão e uma dama-da-noite aí no fundo, perto da sua janela.
_Ah.
_Henderson?
_Quê?
_Estou muito orgulhosa de você.

PS: Esse post é especialmente para agradecer aos meus visitantes, obrigado pessoal pelas mais de 1000 visitas!
PS2: Sim, é o desenho que o faz especial, apesar de ter sido feito meio correndo e improvisado.
PS3: Usei o marcador Outer Space, o que significa que esse post é fictício, porém sabemos que uma história dessas não é de um tão "far away space".

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vamos falar de cinema?

Sempre tive vontade de dar uma de crítico e analisar alguns filmes (e livros, etc) por aqui, mas nunca achei que minha opinião realmente valesse a pena ser lida. Provavelmente seria um post bem tiete sobre algum filme que eu goste muito ou algum que eu tenha achado ridículo e estaria falando mal até dos figurantes.
O filme que me desempacou do dilema 'postar ou não postar uma pseudo-crítica' (hífens são válidos até 2012, certo?) foi o Resident Evil 4. Na verdade a franquia toda.
Quando fiquei sabendo do lançamento 3D do último filme, e um 3D digno pra variar (afirmo sem medo que o melhor, desde Avatar), fiquei tentado a dedicar minha atenção aos outros filmes. Na semana anterior a estréia os assisti, querendo entender a mínima história por trás de tanta ação e zumbis pouco aproveitados. Descobri que já tinha visto os dois primeiros filmes, mas vi o segundo primeiro (?). Por isso não dei o valor que eles mereciam já que não entendi bulhufas, mas dessa vez, com toda a minha sapiência de formado em Audiovisual, pude ser mais atento.
O primeiro me conquistou muito, a trilha sonora e a direção de arte são muito boas, assim como a direção e o roteiro (digo isso porque nunca joguei mais de 30 minutos pra saber a história linda do jogo, ok?). Reassisti o segundo com um pé atrás, pois ouvi comentários negativos. Mas deu pra assistir de boa. O terceiro é uma viagem completa, mas a trilha volta ao tema do primeiro, o que ajuda bastante. Não gosto muito daquele tipo de roteiro pós-apocalíptico, mas né.
E então veio o novo. É muita ação pra um filme só, lutas muito dignas em 3D com pequenas falhas tipo "estou obviamente pendurado em cabinhos" que tanto me incomodam, mas ok isso é o de menos. Uma história interessante que continua bem a jornada da nossa heroína Alice. Aliás, como vi os filmes seguidamente, senti quase que era uma série mesmo, pois não são tão longos e tem um ritmo bem legal.
E a Milla dispensa comentários, MAS GOD [SPOILER ALERT] a melhor luta do filme é da Ali (Claire no filme, nome bem irônico depois de Heroes) contra o gigante do machado *-* [/SPOILER ALERT]

Enfim, assistam! Eu recomendo todos eles, no meu filmow classifiquei os filmes, respectivamente, com 3,5, 3, 4 e 4 estrelas (o que, pra ser sincero, é bem alto no meu ponto de vista).
Vou aproveitar e assistir a animação R.E. Degeneration logo, já que to assim meio poser da série HIHI.

PS: Relendo o post, vejo que eu não sou bom em fazer críticas, então esses posts serão mesmo sobre a minha humilde opinião dos filmes analisados. =P
PS2: Os únicos sustinhos q eu levei foram no 3 e no 4 em momentos NADA a ver. x__x

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Todos os cães merecem o céu.

E merecem mesmo.
Um relacionamento sem nenhum tipo de cobrança. Quem proporciona isso? Um cachorro. No máximo ele faz aquela carinha de dó quando tá com fome.
Receber-te todos os dias, a qualquer hora, sempre com o mesmo entusiasmo e amor (evidentes na cauda que não para de abanar). Quem proporciona isso? Um cachorro. E quando ele ainda chora de saudade é ainda mais reconfortante.
Se triste, feliz, agitado ou dorminhoco, ele sempre estará ali, pronto pra oferecer horas de brincadeira e distração dos problemas do mundo lá fora. Correndo em um campo verde embaixo dos raios de sol de uma bela manhã ou debaixo da varanda ouvindo a chuva caindo enquanto o sol se põe. E tremendo na sua perna cada vez que ouve um trovão.
O frio, os barulhos, os insetos, os desconhecidos. Eles se incomodam com coisas banais que até chega a ser irritante, mas depois de tanto latir, sempre olham pra você, pra garantir que espantaram o mal pra longe de seu querido amigo.
É isso mesmo que somos pra eles? Seus donos são seus amigos? Só pelo fato de alimentá-los?
Não.
Eles nos consideram amigos por muito menos que isso.
Um carinho, uma palavra carinhosa. Só isso e eles já estão pulando de alegria.
E essa amizade tão verdadeira, tão leal e protetora só chega ao fim de um jeito. O jeito inevitável.
É terrível ver esses nossos amiguinhos sofrendo, depois de ter nos dado apenas bons momentos. É injusto.
Mas a vida é injusta, então pra eles só um lugar pode estar reservado: o paraíso. Onde eles estão livres de toda a dor e envoltos em uma nuvem de amor e da saudade que nós sentimos.

Sofia.
Descanse em paz.