quinta-feira, 12 de abril de 2012

Aventuras Aleatórias Cap. 4

Mudanças

A ciclétrica continuava em alta velocidade através de arvoredos e vilarejos distantes, nos quais Zadok achou ser perigoso demais parar por ainda estarem razoavelmente perto da fronteira. O sol poente deixou o céu rubro e uma dor latente na barriga do humano começou a incomodá-lo, ele não conseguia mais ignorá-la e baixou os olhos. Viu seu uniforme rasgado e com marcas de sangue onde Zayd agarrara-o mais cedo e tateou, o sangue parecia ter parado de escorrer. O mascote já sonolento resmungou desculpas.
_Relaxa, na hora da adrenalina eu nem senti, mas uau! Isso está feio.
Eles pararam próximo ao aglomerado seguinte de casas rodeadas de diversas plantações, um local pacato.
_Zayd, acorda! Tenta achar alguma coisa boa pra gente comer e…
_Poxa, eu não sou agricultor! Muito mais fácil tirar minha comida da geladeira.
_Eu preciso achar outra roupa, ficar andando por aí com vestimenta de anão vai parecer bem suspeito.
Zak esgueirou-se pelos casebres até encontrar um com a janela aberta, do qual viu saindo duas pessoas e uma criança. Eles foram mais para o centro da vila onde via-se uma grande fogueira e muitas pessoas ao redor com vozes exaltadas e alegres. Ele aproveitou a agitação, saltou com dificuldade pela janela e deparou-se com algo bem diferente do que estava acostumado. Ali tudo era bem rústico e não tinha nada elétrico, tipo uma geladeira. Foi até o que parecia ser o quarto “Como conseguem dormir nisso?”, vasculhou um caixote de madeira por roupas e pegou as que lhe cairiam melhor. Não tinha comida à vista e a escuridão deixava tudo mais difícil, saiu logo dali antes que alguém o encontrasse.
Zayd o esperava na ciclétrica, respirando fundo com apenas um pequeno cacho de pequenas frutas arroxeadas na mão.
_Tinha um cão infeliz guardando a plantação, só consegui pegar isso.
Partiram dali às pressas e ao cair da noite decidiram sair da estrada e avançar através da floresta, mas o farol gastava muito mais a bateria do veículo e logo eles pararam.
_Talvez tenhamos que deixar essa belezinha pra trás, os humanos parecem não ter energia tão disponível quanto os anões.
_Brincou que vamos ter que perambular pela floresta a pé?
O mascote teve apenas um olhar cansado como resposta. Zak usou a camisa rasgada como atadura para barriga e colocou a roupa nova por cima, sentou recostando-se num tronco e fechou os olhos. Estava com fome, mas a dor era maior. Ouvia o lince mastigando as frutas e quando quase pegava no sono exaltou-se com uma exclamação, olhou ao redor e viu dezenas de pequenas luzes flutuando ao seu redor.
_O que…?_ Zayd estava tão surpreso quanto ele, mas logo eles foram tomados por uma inexplicável sensação de alívio quando elas se aproximaram, tocando-lhes. As dores do humano foram desaparecendo gradativamente, seus olhos pesaram e teve a sensação de estar sonhando. Luzes percorriam todo seu corpo, entrando e saindo pelas roupas. A dor sumiu. Uma mão agarrou firme seu pulso. Uma mão feita de luz, só que ela tinha fisicalidade que faltavam nos pontos luminosos que dançavam ao seu redor. Outra mão se materializou, furtivamente tirando do bolso de Zak a jóia e ele não conseguia reagir, estava em transe de sono. A última coisa que viu foi uma flecha brilhante atravessando a mão que o segurava e um monstro réptil peludo correndo em sua direção. “Ótimo, queria que minha vida mudasse, não que me deixasse."

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Aventuras Aleatórias Cap. 3

Rawr

_Por que diabos tem um botão com cara de tigre nessa... nessa..._ Zayd não soube concluir a interrogação.
_Ciclétrica, é como se fosse uma moto, mas é elétrica. E não tenho ideia, acho que aquele tigre dono do posto se amava tanto que estampava sua cara peluda em tudo.
_Isso se chama narcisismo. Já me disseram que eu sofria disso, o que é besteira, pois não é sofrimento algum ser tão lindo.
Zadok riu, sem desviar a atenção da pista. Estava tudo calmo (até demais) por enquanto, mas aproximavam-se das montanhas que limitavam o território dos anões e tinha certeza que por ali haveria uma guarita ou qualquer tipo de coisa que controlasse quem entrava e saía. Chegou em um túnel cheio de curvas e por mais perigoso que fosse tentou não diminuir muito a velocidade para não perder tempo. Lá estava na saída do túnel uma pequena construção com uma cancela abaixada impedindo a livre passagem.
_Eu preciso parar de ter essas ideias idiotas que podem me matar._ Suspirou Zak ajeitando o capacete.
_Olha aqui moleque, quando elas envolvem apenas você, paciência. Mas estamos falando da minha vida também! Do meu raro pelo de mini lince!
_É isso ou ser preso e escravizado pra sempre por esses anões, Zayd.
_Ora essa, eu no máximo seria doado pra alguma garotinha inocente que me alimentaria muito mais que você nesses últimos anos!
_Segure-se!
Acelerando o máximo que podia, o humano aproximou o veículo da parede arredondada do túnel tentando manobra-lo para cima, assim podendo passar sobre a cancela, mas a gravidade não estava do seu lado naquele dia.
_Você é louco!_ gritava desesperado o mascote_ Volte, vamos achar outra AAAAAAAAAAAAH!
Anões saíam de todos os lados, gritando para que eles parassem e naquela confusão Zayd cravou as garras em Zak e esbarrou o traseiro no botão estampado com um tigre. A ciclétrica rugiu como um animal e instantaneamente teve sua velocidade quase triplicada, o que permitiu deslizá-la pela curva da parede e deixar pra trás os guardas sem um arranhão sequer. No fim do túnel o veículo voou e girou pelo ar até que caiu sobre as duas rodas na estrada adiante e continuou numa velocidade impressionante. Zak não teve nem tempo de raciocinar, ainda segurava com toda a força a direção com medo de ser arremessado pra fora e tinha que manter o controle pra que não saíssem da pista e trombassem com a parede de um lado ou deslizassem montanha abaixo de outro.
Quando Zayd finalmente teve coragem de abrir os olhos exclamou:
_É ISSO AÍ, EU SABIA QUE CONSEGUIRÍAMOS, UHUL! Sempre confiei em você e na nossa amizade, você tá ligado, né?_ Com sorriso amarelo desviou o olhar pra ver a confusão que deixaram para trás, mas nem era mais possível saber se estavam sendo seguidos ou não. Provavelmente estavam.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pé na areia, uma onda e a brisa na pele branca

Começamos como de costume (pelo menos pra mim), tímidos e hesitantes. A voz baixa, mas ansiosos para conhecer melhor um ao outro, pois amamos (de jeitos diferentes, mas com igual intensidade) a mesma pessoa e por isso eu tinha uma pré disposição pra gostar de você.
Eu costumo acreditar no melhor das pessoas, mesmo que não as conheça, mas você superou todas as expectativas, que pra constar não eram nada baixas.
O carinho veio surgindo entre pequenas conversas, nas quais descobrimos que temos muito em comum, e trocas de risadas confesso que um pouco nervosas. Hoje a alegria estampa nossos rostos quando nos encontramos (ou as lágrimas escorrem, dependendo do momento).
Apesar de agora estar em meu cotidiano, você não se tornou rotina. Continuo sentido em meu âmago aquele calor que me despertava nas raras vezes que lhe via quando vinha de longe visitar, por apenas alguns dias que pareciam eternos e ao mesmo tempo tão insuficientes. Isso me deixa tão nostálgico, parece que faz décadas essa agonia de quando será que vou vê-la de novo/despedidas cafonas e emotivas na rodoviária, só que em menos de um ano você plantou em mim o que vamos colher ainda por um longo, próspero e harmonioso tempo.
Até do que eu não lembro por causa da vodka jamais quero esquecer!
Parabéns pelo seu dia e, não só por isso, por ser digna da minha mais sincera admiração. Afinal você é um exemplo de guerreira que luta pra continuar buscando seu sonho e enfrentando adversidades para viver o amor da forma mais bonita que eu já vi.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Aventuras Aleatórias Cap. 2

Mascote

_Claro, madame.
Bastou a pequena olhada de Zak para trás. Apareceu de repente do outro lado da curva, descendo a serra em alta velocidade, um outro veículo. Pé no freio. Carro derrapou. Bolsa escapou. Milhares de objetos voaram. Respirações ofegantes e aliviadas ao perceber que tudo estava tão bem quanto possível, o carro deles próximo ao penhasco.
Esperando pelo grito que não veio, virou-se no banco e ajudou Ximena a recolher seus pertences e colocar tudo de volta na bolsa. Quase tudo.
Restabelecida a viagem o humano avisou a anã que precisariam parar em alguma estação de energia pela estrada para reabastecer o carro, notícia que foi recebida com um visível desgosto. Logo viram a grande placa da estação que estampava um tigre humanoide perto de um vilarejo e Zak estacionou ao lado de uma das fontes de energia.
_Quer alguma coisa da conveniência, madame X?_ Ele sorria. Sem resposta, desceu do carro e conectou o cabo no receptor do automóvel e enquanto o reabastecimento era feito, rumou para a lojinha de aspecto abandonado. No caixa estava quem devia ser o dono, o tal tigre, e mais ninguém. Zak perguntou com um aceno simpático:
_Tem banheiro?
_Nos fundos._ Soou a voz grave e ronronante_ Não está em excelentes condições, mas um humano como você deve estar acostumado, hehe.
_Obrigado._ Ajeitou o quepe e foi até o local indicado. Reparou que depois da porta do banheiro tinha um pequeno corredor que levava à porta dos fundos e para lá se encaminhou. Na garagem bagunçada havia uma ciclétrica enorme, se comparada aos veículos que costumava dirigir na cidade dos anões. Duas mexidas nos comandos elétricos e já estava montado em cima do seu novo meio de transporte ligado, testou o equilíbrio, verificou o bolso, examinou melhor aquela pedra simples e cinza com musgos “Por que diabos chamam isso de jóia?”, guardou-a novamente, vestiu o capacete com cheiro de zoológico e partiu rumo à sua liberdade, rumo à sua nova vida.
Antes de seguir viagem foi pra casa cauteloso, afinal a pequena e raivosa polícia anã já deveria estar atrás dele, mas Zak não pretendia abandonar Zayd. Tirando sua mascote, não queria levar mais nada que lhe lembrasse o que ele já chamava de velha vida. De longe notou que não havia ronda policial, mas tinha certeza que eles teriam tecnologia disponível para denunciá-lo caso tentasse entrar e pra sua sorte o pequeno lince dormia tranquilamente no jardim, Zak buzinou e as orelhas de Zayd tremeram um pouco antes dele abrir os olhos.
_Vem garoto._ chamou ele batendo na própria perna e o animal correu a seu encontro. Assim que subiu na ciclétrica e ajeitou-se no colo do dono, exclamou:
_MUITO LOUCA ESSA TRETA! Com certeza ela corre mais que as mini viaturinhas desses babacas que estavam rondando por aqui. Eu fiz um ótimo papel de bichinho abandonado pelo dono insensível, de nada.
_Não vamos mais nos preocupar com anões, Zayd. Vamos pra lá das montanhas onde os humanos é que dominam.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Aventuras Aleatórias Cap. 1

Negro Gato

Zadok estava cansado da vida dupla que levava. Era oficialmente um empregado do governo na colônia dos anões, mas levava uma vida secreta como gatuno, numa tentativa de vingar-se da hipocrisia daqueles pequenos seres que diziam contratar humanos pra trabalhar dignamente como iguais, mas apenas rebaixavam-nos com tarefas humilhantes. Zak, como era chamado pelos colegas de trabalho, aturava com um falso sorriso as brincadeiras dos anões e com uma expressão ainda mais falsa de preocupação quando lhe contavam que algo que muito estimavam fora-lhes roubado.
Decidiu dar um basta em toda essa falsidade aplicando seu maior golpe, o qual vinha planejando já há algum tempo. Dentro da sede secundária do governo muito ouvia-se falar da jóia do tempo, uma pedra nada valiosa que tornara-se especial após ser enfeitiçada por uma sacerdotisa do tempo e agora tinha o incrível poder de controlar o tempo. “Bobeira sem sentido” diziam os anões céticos, que nunca foram criaturas focadas em magia, confiando em sua tecnologia. Pois bem, Zak só precisava de uma desculpa para cair fora dali e decidiu que essa seria a oportunidade. Não muito simples, contudo.
No dia escolhido, acordou de bom humor, colocou a comida do Zayd, seu lince-anão, vestiu o uniforme e verificou sua agenda eletrônica, lá constava: “Motorista”. Chegando ao trabalho, foi até a garagem e entrou no carro luxuoso reservado às figuras políticas e quando saía dirigindo pelo portão, a pequena figura que ele aguardava surgiu. Ao lado de um segurança, que abriu a porta do veículo pela qual ela entrou, pequena e esverdeada como sempre.
_Bom dia, senhorita Ximena. O tempo está bom para um…
_Bom dia._ respondeu a anã secamente dando a entender que não queria papo. Aquilo tornava tudo ainda mais divertido. Tratava-se da filha do rei dos anões, que comandava as coisas na colônia enquanto o pai tomava conta da capital, para onde iriam. Ela era a suposta possuidora da jóia do tempo. Focada em um pequeno espelho, ela nem trocava olhares com ele, apenas ajeitava com as mãos o curto cabelo cheio de mexas verdes. “É uma boa idéia pra tirar a atenção dessa sua cara horrorosa!” pensou o humano na primeira vez que a viu. Ele ajeitou os óculos escuros quando notou o forte brilho do mar encosta abaixo refletindo o sol.
Foi mais ou menos aí que Ximena ficou inquieta, trocando olhares raivosos com Zak pelo retrovisor e pouco antes dele manobrar o carro em alta velocidade pra fora da pista, o que ele pensava agora poderia causar sua morte instantânea, a anã berrou do banco de trás.
_Mais atenção aí na pista, rapaz. Tenho certeza que nossas famílias ficariam arrasadas caso nosso carro resolvesse dar um mergulho.
Era verdade então, a jóia do tempo era real. Era hora do plano B.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Careful

Can't be too careful anymore
 When all that is waiting for you
Won't come any closer
 You've got to reach out a little more
...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Aparências

Mais uma metáfora vem aí, cuidado.

Sinto-me como um tornado, não denotativamente. Comparo-me apenas ao que vemos no exterior dessa amendrontadora ameaça e ao que sabemos que se encontra bem no meio, no interior dela. O silêncio.
Só que ao contrário.