quarta-feira, 5 de maio de 2010

De Netuno, com amor

"Nunca contei isso pra ninguém, mas sou um alien apesar da minha aparência enganar.
Vim de muito longe para este planeta na intenção de encontrar um bom lugar para viver. Onde eu vivia antes era escuro e solitário.
Quando cheguei, muitas informações estranhas bombardearam meu cérebro (é, eu também possuo um, um pouco mais desenvolvido, mas quase a mesma coisa). Um tal muro que tinha caído, o fim de uma guerra fria. Pareciam ser coisas importantes, mas na época eu não consegui processar muita coisa e não assimilei nada disso, ainda não estava habituado aos costumes nem a língua deste mundo.
O tempo foi passando, eu fui me adaptando a isto que chamam de Terra e a tudo que há nela. Bom, quase tudo na verdade.
Com plantas, animais, com os elementos da natureza, a estes eu me adaptei. Sentimentos, eu não fazia ideia do que fossem, mas consegui desenvolve-los razoavelmente bem. Acompanhei um pouco a evolução da tecnologia humana terrestre, o que me impressionou nesses quase 20 anos. Acabei ficando quase dependente dela.
Uma coisa que eu estou me adaptando ainda são os habitantes que dominam o planeta. Sou tão parecido com eles, mas ao mesmo tempo tão diferente.
Pergunto-me frequentemente como é possível. Eles são capazes de complexas relações entre si, as quais tentei compreender com o (pouco) domínio que tenho sobre os sentimentos. Eles parecem depositar a felicidade e a tristeza no outro, algo que parece tão íntimo. Bom, até aí eu compreendi, apesar de um pouco confuso, mas quando surgiu o respeito, amizade, amor, confiança... meu cérebro quase parou. São lindos de se ver, só que as vezes são substituídos por ódio, falsidade e outras coisas ruins que pra mim são quase inadmissíveis.
É intrigante quando um surge no lugar do outro ou, ainda mais, quando existem mutuamente (pensando bem, o cérebro desses humanos é tão desenvolvido quanto o meu, mas de diferentes maneiras).
Pra não ficar completamente perdido no convívio dos (poucos) humanos que eu sou mais próximo, quis revelar minha verdadeira identidade. Não sabia se entenderiam e como reagiriam em meio a sua complexa rede de sentimentos por mim. Mas achei importante, pois pelo que soube a amizade é baseada na verdade e se depois ela desaparecesse é porque nunca tinha sido real.
Pra alguns eu contei, mas além da supresa e choque inicial (outros nem tanto) provaram sua lealdade e continuaram ao meu lado. Maior ainda foi o meu choque quando outras pessoas revelaram pra mim que também vieram de outros planetas, galáxias e universos. Com estes está sendo muito mais fácil desenvolver relações, mas o carinho meu para com todos os humanos é igual, pena que nem sempre é recíproco.
Muitas vezes durante o meu crescimento aqui enfrentei diversas provas que me foram impostas devido à minha condição. Minhas mínimas diferenças de alguns deles os incomodavam e eles faziam de tudo para me repelir ou prejudicar. Não me permiti ser afetado por nada disso, apesar de ter sido muito difícil algumas vezes. Os humanos incrívelmente valorizam coisas que me parecem tão superficiais e talvez até desnecessárias, por outro lado ignoram qualidades impecáveis. Não digo que eu possuia/possuo uma ou outra, mas minha tragetória me ensinou diversas coisas.
Obviamente eu acabei sendo influenciado e cometi também "erros humanos". Foi inevitável e tenho a certeza que ainda cometerei mais alguns, pois a jornada que me espera pela frente ainda é grande. Tento cada dia mais me adaptar, mas seria de grande ajuda contar com a colaboração humana. O que me preocupa e me faz acreditar que não poderei contar com ela é o estado atual do planeta. Se o pessoal aqui não cuida nem do que lhes é vital, o que esperar que façam com o que simplesmente não os agradam?
Claro que existem as excessões nas quais eu deposito minha fé: todos aqueles que possuem uma visão mais universal do que é 'ser humano', uma visão menos egoísta e ignorante."

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